Endometriose: Correta Abordagem e Tratamento

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Boa Vida Online apresenta uma entrevista com o Ginecologista e Obstetra, Corival Castro, sobre Endometriose, já que é grande a falta de entendimento da doença. O doutor Corival passou a ser um pesquisador e estudioso da Endometriose, depois que percebeu o quanto as pacientes sofriam com os sintomas e contradições da doença, com o agravante de ser um problema rodeado de tabus e rótulos. Acreditem: há quem diga que a dor da Endometriose seja psicológica e que esta é uma doença da mulher moderna, que adia a maternidade. Por isso, Boa Vida Online traz uma “Correta Abordagem e Tratamento da Endometriose”, com um dos maiores especialistas do país, Corival Castro:

Aurélia Guilherme – Quais são as maiores dificuldades enfrentadas por uma mulher, portadora de endometriose?

Dr. Corival Castro – A portadora de endometriose sofre mesmo várias dificuldades; a princípio, enfrenta uma peregrinação por vários médicos com um sofrimento sem diagnóstico, muitas vezes, sendo tratada como portadora de distúrbios psicológicos. A consequência da falta de diagnóstico é, então, a falta de tratamento eficaz, perpetuando a situação.

Aurélia Guilherme – Qual o impacto que essa doença tem na vida de uma mulher?

Dr. Corival Castro – A endometriose impacta a vida da mulher no que ela tem de mais precioso que é a maternidade, a vida conjugal e a capacidade de trabalho. São as três áreas mais importantes da vida de uma mulher, na minha opinião. A infertilidade, as dores intensas às relações e a dor pélvica crônica que a incapacita de trabalhar são as causas deste impacto.

Aurélia Guilherme – Por que tanta informação contraditória, opiniões opostas e dificuldade de diagnóstico  dessa doença?

Dr. Corival Castro – A endometriose é uma doença misteriosa, multifacetada e caótica. Isto dificulta muito os estudos científicos que produzem as evidências para a determinação de tratamentos e condutas eficazes.

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O endométrio se movimenta de dentro para fora do útero, em forma de tumorações que grudam nos órgãos da cavidade pélvica, como ovários, tubas uterinas, intestino e áreas da bexiga e ureter ou áreas atrás do útero. Cerca de 15% das mulheres sofrem bastante com os sintomas do problema. Foto: reprodução

Aurélia Guilherme – Qual a sua opinião sobre essa doença?

Dr. Corival Castro – Acredito que esta é uma doença da alma da mulher, é um perfeito modelo de doença, que se inicia nas profundezas do inconsciente e que vem a se materializar na forma de doença física palpável. É por isso que sempre indico uma abordagem psicológica concomitante aos tratamentos medicamentosos e cirúrgicos.

Aurélia Guilherme – É verdade. Existe um número consistente de mulheres, cujos exames de imagens sempre se apresentam dentro da normalidade. Há relatos de que, muitas dessas mulheres ouviram que suas dores não eram reais, mas de fundo psicológico. Qual a sua opinião sobre isso?

Dr. Corival Castro – Os exames diagnósticos realizados de rotina como a ultrassonografia, a ressonância magnética e a tomografia computadorizada não são adequados ao diagnóstico. Há pilhas de laudos “normais” se acumulando nas pastas que as pacientes me apresentam, na minha prática diária. A boa notícia é que técnicas têm sido desenvolvidas, tanto na ultrassonografia como na ressonância magnética, com preparo (limpeza) intestinal que têm possibilitado o diagnóstico nestas pacientes. Atualmente, temos parcerias com profissionais radiologistas e ultrassonografistas estudiosos e comprometidos com o estudo da endometriose, que tem possibilitado diagnosticar a doença com bastante precisão.

Aurélia Guilherme – Por que tantas pacientes têm dificuldades em respostas positivas às terapias de tratamento?

Dr. Corival Castro – Como o próprio comportamento dos sintomas é bastante variável, a resposta aos tratamentos também é. Muitas mulheres com múltiplas lesões e doença extensa podem quase não apresentar sintomas e, ao contrário, pacientes com pouco acometimento podem apresentar dores incapacitantes e infertilidade. É um caso em que as exceções são tão frequentes quanto às regras.

 Aurélia Guilherme – Qual o caminho do diagnóstico correto de anomalias dos tecidos?

Dr. Corival Castro – Tudo se inicia com um médico que se dedique ao estudo dessa doença e indique os exames de imagem a serem feitos com o preparo adequado, com profissionais preparados para realizar o diagnóstico. Isso passa por uma boa avaliação clínica do paciente no consultório, por um adequado encaminhamento de exames de imagem como a ultrassonografia e a ressonância magnética, podendo terminar, em alguns casos, com uma videolaparoscopia. Ainda hoje, muitas pacientes são submetidas a videolaparoscopia para o diagnóstico inicial da doença, chamado antigamente como “padrão ouro”. Atualmente o papel da videolaparoscopia é de tratamento e não de diagnóstico.

Aurélia Guilherme – Uma vez feito o diagnóstico, quais as alternativas de tratamento?

Dr. Corival Castro – As alternativas tem que ir ao encontro das necessidades e do sofrimento de cada paciente. A prioridade pode ser dada ao tratamento da infertilidade com as técnicas de reprodução assistida, pode ser dada ao tratamento clínico das dores e melhoria da qualidade de vida com medicamentos e terapias auxiliares e ao tratamento cirúrgico, no caso de tumorações e comprometimento profundo da doença, em órgãos importantes como intestino, bexiga, ovários, e outros.

Acredito que esta é uma doença da alma da mulher, é um perfeito modelo de doença, que se inicia nas profundezas do inconsciente e que vem a se materializar na forma de doença física palpável. É por isso que sempre indico uma abordagem psicológica concomitante aos tratamentos medicamentosos e cirúrgicos.

Aurélia Guilherme – Por que tantas mulheres não conseguem ter sucesso no tratamento?

Dr. Corival Castro – A resposta ao tratamento clínico conservador é variável e, cabe a nós profissionais, nos dedicarmos ao estudo da doença e ter um arsenal maior ou menor para cuidar destas mulheres. Também temos o caso das pacientes submetidas a várias cirurgias para endometriose sem sucesso, em alguns casos, pode ser por cirurgias incompletas, por falta de recursos técnicos ou por recidiva, isto é, o reaparecimento espontâneo da doença. Sejam quais forem as inúmeras situações de insucesso possíveis, a falta de uma abordagem psicológica é certamente a mais importante. Situações vivenciais traumáticas e desconexão com os pais são exemplos de origem das doenças em geral. Se não tratarmos a origem psicológica das doenças no nosso organismo estaremos sempre,ou impedindo a cura, ou criando novas doenças.

Aurélia Guilherme – Que tipo de treinamento um especialista deve ter para ser competente  em excisão de endometriose?

Dr. Corival Castro – Como especialista em reprodução humana e lidando diariamente com mulheres inférteis por endometriose, senti a necessidade de estender meus estudos e treinamento em cirurgia laparoscópica da endometriose, de modo à capacitar-me a cuidar destas mulheres, em qualquer área, seja em reprodução assistida, seja em cirurgia minimamente invasiva dentro da moderna abordagem cirúrgica da doença, com o objetivo de se realizar uma única e definitiva cirurgia, evitando-se várias cirurgias com pouca eficácia.

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Aurélia Guilherme – Sim, ouve-se com bastante frequência que a cirurgia é uma questão de sorte e a recidiva da doença acontece na maioria dos casos operados?

Dr. Corival Castro – A cirurgia é uma questão de estudo e treinamento constantes, é uma questão de se ter uma equipe multidisciplinar, formada para trabalhar em conjunto e oferecer a completa abordagem da doença, seja na parte ginecológica, seja na parte intestinal ou nas vias urinárias. As recidivas sempre podem ocorrer e serão cada vez mais raras, na medida em que as cirurgias são cada vez mais completas.

Aurélia Guilherme – Várias portadoras da doença já ouviram que a endometriose é uma doença da mulher moderna, daquela que adia a maternidade em nome da carreira e, com isso, propicia o desenvolvimento da doença. Qual a sua opinião sobre o assunto?

Dr. Corival Castro – É verdade, a endometriose é uma doença progressiva, quanto mais tempo a gravidez for retardada, mais tempo haverá para a endometriose se desenvolver e se expandir nos órgãos reprodutores e dificultar a concepção. Além disso, a gravidez tem um efeito benéfico em relação à endometriose, levando a redução e atrofia dos focos da doença.

Aurélia Guilherme – Essa doença é uma lição de humildade para todos os que estão envolvidos?

Dr. Corival Castro – Esta é uma ótima pergunta, dada a grande complexidade e variabilidade do comportamento da endometriose e do seu caráter progressivo, ela é considerada incurável e todos os esforços devem ser no sentido de controlar a doença e manter as pacientes com boa qualidade de vida. O médico, a paciente e os outros profissionais que trabalham com esta enfermidade devem sim, ter a humildade de que não podem garantir resultados com 100% de sucesso e de que não podem trabalhar com individualismo, é mesmo necessário trabalhar em equipe, com outros especialistas.

Aurélia Guilherme – Dor pélvica é comum entre as mulheres com endometriose?

Dr. Corival Castro – A dor pélvica durante as menstruações, chamada de dismenorreia e a dor pélvica crônica, que persiste fora do período menstrual são os sintomas mais característicos da endometriose e devem sempre levar à suspeita do seu diagnóstico. Destaco também a dor nas relações sexuais durante a penetração profunda como um sintoma importante e comum.

Aurélia Guilherme – Existe alguma escala em que a gravidade da doença é medida?

Dr. Corival Castro – A doença é classificada em 4 estágios de acordo com a sua extensão na pelve sendo estes: forma mínima, leve, moderada e severa. Esta classificação é estabelecida durante a cirurgia e é preconizada pela ASRM, Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva.

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