Endometriose Profunda

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Milhões de brasileiras em idade fértil sofrem com dores intensas todos os meses ao final de cada ciclo menstrual. Não bastasse isso, o sexo também é doloroso e engravidar se torna um desafio. Nove perguntas esclarecedoras sobre a Endometriose Profunda, a forma mais grave da doença para o Ginecologista e Obstetra, especialista em Reprodução Assistida Corival Castro:

1 – O que caracteriza a Endometriose Profunda? Porque ela é considerada a forma mais grave da doença?
A endometriose ocorre quando o tecido que reveste internamente o útero (o endométrio) cresce e/ou se desloca para outras partes do corpo da mulher, Esse tecido deslocado é chamado de implante.
Na sua forma superficial, os implantes se espalham pelos órgãos pélvicos, mas não há formação de tumorações e não há penetração profunda nos outros órgãos do abdome. Em geral, há uma boa resposta ao tratamento clínico.
Porém, na sua forma profunda, ocorre uma penetração grave dos implantes, com formação de tumorações pélvicas, cistos ovarianos e acometimento de órgãos, como intestino, bexiga, vias urinárias e de nervos pélvicos. Nestes casos o tratamento clínico tem pouca eficácia e o sofrimento crônico passa a fazer parte do cotidiano dessas mulheres. A cirurgia, então, se faz necessária.
2 – Quais são os sintomas da Endometriose Profunda?
Cólica menstrual progressiva e intensa, dor pélvica crônica persistente de variados graus, não raramente incapacitante. Além disso, há muita dor durante as relações, impedindo uma vida sexual normal. O acometimento profundo do intestino e da bexiga provoca dor e sangramento à evacuação e à micção, além de outras anormalidades no funcionamento intestinal e urinário.
3 – Como é feito o diagnóstico da endometriose profunda?
Há algum tempo, a endometriose profunda era de difícil diagnóstico. Exames comuns, como a ultrassonografia e mesmo a laparoscopia, “padrão-ouro” para a endometriose superficial, não eram suficientes para evidenciar o acometimento profundo. Por isso, o tratamento dessas pacientes era marcado por vários procedimentos cirúrgicos incompletos e sem sucesso no efetivo controle da doença, justamente por não haver como estabelecer sua correta localização durante a cirurgia. No entanto, nos últimos anos, a ressonância magnética e a ultrassonografia endovaginal, com preparo (esvaziamento) intestinal prévio, tem conseguido evidenciar a doença com precisão, de forma a direcionar o tratamento. Além disso, a abordagem cirúrgica especializada para endometriose, através da videolaparoscopia, vem sendo paulatinamente difundida no meio médico como a forma mais eficaz de tratamento. A cirurgia convencional por laparotomia, “barriga aberta”, não é a forma ideal de tratamento. O conceito atual de cirurgia minimamente invasiva, com equipe multidisciplinar de ginecologistas, proctologistas, urologistas e cirurgiões gerais, com estudo específico desta patologia vem trazendo finalmente, alívio e controle da doença, com procedimentos eficazes e que preservam, e até recuperam, a parte reprodutiva. Assim, estas mulheres, antes presas à dor e ao sofrimento de não poder engravidar, agora já podem ter, em muitos casos, a fertilidade restaurada e a dor resolvida.
4 – Essa forma da doença pode interferir no sucesso de uma gravidez mesmo quando são utilizadas as técnicas de Reprodução Assistida?
Sim, de várias formas. Por exemplo, o acometimento dos ovários por tumorações ou seu encarceramento por aderências pode impedir a obtenção e a coleta de óvulos para o processo de fertilização in vitro. Assim, pode ser necessário realizar uma videolaparoscopia para se corrigir as anormalidades, para que se possa, depois, realizar a inseminação ou a fertilização in vitro. É verdade também que as taxas de gravidez diminuem em alguns casos de endometriose.
5 – Essa é uma doença que, até pouco tempo, estava cercada de mistérios e, nem sempre os medicamentos se mostravam eficazes. O que mudou no tratamento da Endometriose Profunda?
O comportamento da endometriose e a forma com que ela invade e afeta os órgãos pélvicos é imprevisível e não obedecem a qualquer tipo de padrão. É realmente misterioso o fato de pacientes apresentarem sintomas em uma doença pouco evidente e também apresentarem a pelve totalmente tomada por tumorações, aderências e implantes com muito poucas queixas de dor. A resposta ao tratamento também é muito variável, muitas vezes a paciente tenta vários tipos de tratamentos até que se possa controlar os sintomas. A própria evolução da doença também pode variar muito, com casos de cura espontânea e de piora sem um motivo aparente.
O que mudou no tratamento da endometriose profunda é o conceito que antes havia, de que a paciente tinha que se submeter a várias cirurgias, seja por videolaparoscopia ou por laparotomia. Na primeira, se diagnosticava a doença. Na segunda, se realizava uma tentativa quase sempre incompleta de tratamento das lesões, por não haver uma correta localização dos implantes. As tentativas, quase sempre paliativas de redução das dores, se limitavam a resultados superficiais e de pouca eficácia. O conceito atual é que o primeiro procedimento cirúrgico deve ser o mais completo ao retirar todos os focos superficiais e profundos da doença. Para isso, é feito um completo e eficiente mapeamento pré-operatório da mesma. O outro conceito atual é que esta cirurgia seja minimamente invasiva, realizada por videolaparoscopia de alta resolução, com instrumentos que permitam retirar as lesões, com mínimo dano às estruturas sadias, preservando ao máximo a função desses órgãos para recuperar seu funcionamento, com a precisão e a minuciosidade de um relojoeiro.
6 – A cirurgia pode ser considerada de alta complexidade?
Sim, é uma cirurgia de alta complexidade. O cirurgião e toda a sua equipe precisam ter um intenso treinamento e estudo dessa doença em todas as suas peculiaridades, uma vez que se trata de um problema de comportamento especial e exclusivo, bem diferente das outras patologias. É complexa por acometer vários órgãos ao mesmo tempo e requerer cirurgiões de mais de uma especialidade; por ser de longa duração; por requerer assistência de terapia intensiva pós-operatória e, algumas vezes, transfusões sanguíneas. Finalmente, por requerer equipamentos e instrumentos especiais e de alto custo, não disponíveis em hospitais de nível primário ou mesmo intermediário.

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primeira cirurgia de endometriose profunda realizada em um hospital público no estado de Goiás, no Hospital Materno Infantil, pelo Ginecologista e Obstetra Dr. Corival Castro e sua equipe. Foram mais de dez horas de trabalho árduo, com o apoio da diretoria, dos funcionários e da enfermagem. Ao final, todos comemoraram o sucesso do procedimento e o início desse serviço adequado e definitivo em pacientes do SUS.

7 – Como é o procedimento?
O procedimento é realizado por videolaparoscopia que permite total visualização do abdome por uma câmera de alta resolução. Utilizam-se instrumentos que geram energia elétrica bipolar, ultrassônica, laser ou plasma, todos, com objetivo de proporcionar corte e coagulação de tecidos da forma mais precisa possível. Primeiramente são desfeitas as aderências e se individualizam os órgãos pélvicos, depois se retiram os tumores ou nódulos endometrióticos, bem como os órgãos ou partes de órgãos destruídos pela doença. O ato cirúrgico requer anestesia geral e o tempo de internação pode variar de um a cinco dias, dependendo se a cirurgia se estender até o intestino.
8 – Como é o pós operatório?
O pós-operatório é tranquilo pelo fato de a cirurgia ser minimamente invasiva e não envolver a abertura e fechamento do abdome. Há muito menos dor e o retorno às atividades normais varia de 15 a 30 dias enquanto que, na cirurgia convencional, o retorno acontece de 45 a 60 dias.
9 – O que as mulheres podem esperar dessa cirurgia?
Elas podem contar com uma grande probabilidade de retirada de todas as lesões com apenas uma cirurgia. A Endometriose é uma doença que atinge a alma da mulher. Ela é a manifestação física de grande sofrimento interno, de origem profunda e que envolve o que a mulher tem de mais exclusivo e precioso na sua existência: a mãe, a mulher, a companheira e a esposa. Nunca haverá uma cirurgia e um remédio suficiente que dispensem o cuidado especial e um olhar profundo para dentro de cada mulher com esse problema. Todas as mulheres com Endometriose Profunda precisam também de um tratamento psicológico feito por profissional qualificado, em todas as etapas da abordagem dessa doença.

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