Trombofilia na gravidez: como evitar esse sério risco de aborto

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A Trombofilia é uma condição de hipercoagulabilidade sanguínea. É como se o sangue se tornasse mais espesso, mais grosso. Na gravidez, a trombofilia representa sério risco de abortos repetitivos e riscos acentuados de problemas no desenvolvimento do bebê e até mesmo, de morte materna durante e no pós-parto. O Ginecologista e Obstetra Corival Castro, tem uma longa trajetória de estudos em Reprodução Humana. O doutor Corival nos fala sobre como evitar abortos e como manter uma gravidez, mesmo na presença dos perigosos trombos:

Aurélia Guilherme – Por que o sangue engrossa e forma trombos?

Dr. Corival Castro – O sangue circula pelo nosso organismo na forma líquida que todos conhecem. Um complexo mecanismo regula esse estado, para que ele possa permanecer líquido na maior parte do tempo e, para que ele possa coagular e estancar sangramentos, em casos de um corte na pele, ou um sangramento de uma úlcera no estômago, por exemplo.

Trombofilia na gravidez

Aurélia Guilherme – Portadoras de Trombofilia têm maiores dificuldades de engravidar?

Dr. Corival Castro – As portadoras de Trombofilias têm maior dificuldade de implantação da gravidez e aumento nas taxas de abortos.

Aurélia Guilherme – Há tipos diferentes de Trombofilia?

Dr. Corival Castro – Sim, existem Trombofilias hereditárias e adquiridas, cada uma destas apresentam múltiplos subgrupos.

Aurélia Guilherme – Há algum sintoma ou sinal indicativo de uma hipercoagulação?

Dr. Corival Castro – O que é importante para a população saber é que mulheres que apresentaram um episódio na vida de trombose profunda, de qualquer tipo, seja venosa ou arterial, ou têm algum parente com história de trombose, podem ser portadoras de algum tipo de Trombofilia.

Aurélia Guilherme – Na gestação, quais os riscos da Trombofilia?

Dr. Corival Castro – As Trombofilias estão associadas à uma maior morbimortalidade materno-fetal. Podem causar abortamentos de repetição, insuficiência placentária levando ao crescimento fetal retardado, sofrimento e óbito fetal, doença hipertensiva da gravidez e aumento do risco de tromboembolismo materno, dentre outras.

Aurélia Guilherme – Existe algum exame preventivo, que investigue as tendências de Trombofilia e, que possa ser feito, quando se decide por uma gravidez?

Dr. Corival Castro – Não está indicada, atualmente,  a realização de exames de Trombofilia na população em geral quando se decide por uma gravidez. Os estudos clínicos  ainda não comprovaram a validade, o custo-benefício, nem quais exames especificamente seriam úteis num rastreamento populacional.

Aurélia Guilherme – Uma vez, a mulher já grávida, o exame de averiguação do problema está entre os exames obrigatórios em uma gestação?

Dr. Corival Castro –  Não, como respondi anteriormente, a realização de exames preventivos em relação à trombofilias não tem respaldo científico que os justifique, nem antes, nem no começo de uma gravidez normal em população sem fatores de risco.

Trombofilia trombos trombose

Aurélia Guilherme – Qual o exame que verifica se os trombos estão se formando?

Dr. Corival Castro – Em geral, os trombos se formam de forma aguda, episódica, os exames existem apenas para diagnóstico em casos clínicos de suspeita de tromboembolismo vascular, não são indicados de forma preventiva. A formação de trombos no organismo é um fenômeno que ocorre o tempo todo, fisiologicamente. As pessoas sadias em geral não precisam se alarmar com a possibilidade de formação deles, apenas em casos específicos, em que a pessoa é acometida de uma doença relacionada a um problema de coagulação do sangue, caberá ao médico o seu diagnóstico e o tratamento adequado para cada caso.

Aurélia Guilherme – E se os trombos não se dissolverem, há como controlá-los?

Dr. Corival Castro – Sim, em casos de qualquer doença relacionada a algum tipo de trombose há, sim, como trata-la.

Aurélia Guilherme – Grávida com Trombofilia tem que usar medicamento? O anticoagulante não faz mal para o bebê?

Dr. Corival Castro – Nem toda grávida com Trombofilia necessita de tratamento, cada caso tem que ser avaliado pelo obstetra e, eventualmente, pelo hematologista ou angiologista. Existem anticoagulantes que podem ser utilizados com segurança durante a gravidez.

Aurélia Guilherme – Esse medicamento é auto aplicável?

Dr. Corival Castro – Os anticoagulantes seguros na gravidez são a heparina e suas variantes de baixo peso molecular. São aplicados via subcutânea e isso pode ser feito pela própria paciente, como os diabéticos fazem com a insulina.

Aurélia Guilherme – Mesmo com todos esses cuidados, há riscos de aparecerem trombos na placenta?

Dr. Corival Castro – Em paciente portadoras de Trombofilia  pode ocorrer trombose e infartos placentários.

Aurélia Guilherme – E, o que pode acontecer, quando a gestante não recebe tratamento adequado?

Dr. Corival Castro – A formação de trombos na placenta pode levar à uma dificuldade da chegada de sangue ao feto; isso pode causar diminuição de sua oxigenação e nutrição. Consequentemente, pode haver retardo do crescimento fetal, sofrimento fetal por falta de oxigênio, óbito fetal, doença hipertensiva da gravidez, desencadeamento prematuro do parto e abortos.

Aurélia Guilherme – O uso de anticoncepcionais em tempo prolongado pode ser um dos motivos da trombofilia?

Dr. Corival Castro – É muito importante saber que trombose e trombofilia são coisas diferentes. O uso de anticoncepcionais não causam trombofilias, mas podem aumentar o risco de trombose nas usuárias. Este risco é pequeno na população, em torno de 0,6 para cada 1.000 habitantes, mas pode ser aumentado em 3 a 6 vezes nas usuárias de pílulas.

Aurélia Guilherme – Grávidas que fazem viagens mais longas passam a estar em um grupo de risco?

Dr. Corival Castro – Neste caso, há um risco um pouco maior de trombose associada a viagens longas. Então, gravidez é um fator de risco para trombose, trombofilia é outro fator de risco e uma viagem longa é mais outro fator que, quando associados, representam maior risco.

Aurélia Guilherme – Episódios anteriores de trombose, antes da gestação, podem se repetir durante os nove meses de gravidez?

Dr. Corival Castro – Episódios anteriores de trombose são fatores de risco para que ocorra novamente durante a gravidez e são um alerta para se suspeitar de trombofilia, como doença causadora.

Aurélia Guilherme – Por que o risco de abortos de repetição é tão alto?

Dr. Corival Castro – O que se sabe é que as trombofilias estão associadas a abortos de repetição e os motivos ainda não são claros, mas certamente estão relacionados ao desenvolvimento inicial da placenta.

trombofilia gestação tratamento

Aurélia Guilherme – O bebê pode ser prematuro, por essa condição?

Dr. Corival Castro – A prematuridade pode ocorrer pela própria trombofilia em si, bem como decorrer das outras patologias associadas como a insuficiência placentária, e do sofrimento fetal.

Aurélia Guilherme – E quanto ao risco de pré-eclâmpsia?

Dr. Corival Castro – Em relação à pré-eclâmpsia, as portadoras de trombofilias tem que ser conduzidas com medidas preventivas no pré-natal, tanto para que se tente evitar, como amenizar o problema ou diagnostica-lo precocemente.

Aurélia Guilherme – Qualquer pessoa pode se tornar trombofílica durante a gravidez?

Dr. Corival Castro – Não, as trombofilias já existem antes da gravidez.

Aurélia Guilherme – Gestação de gêmeos pode piorar o quadro?

Dr. Corival Castro – Uma gestação gemelar, por si só, já é um fator de risco para qualquer gravidez e pode agravar ou aumentar muito as chances de complicações nas portadoras de trombofilia. É uma associação de risco elevado.

Aurélia Guilherme – As mulheres atuais adiam o quanto podem a decisão de uma gestação. Gravidez tardia pode ser um risco para a Trombofilia?

Dr. Corival Castro –A idade avançada não tem relação com trombofilia.  A  trombofilia é um fator de risco para qualquer gravidez, assim como é a idade avançada.

As pacientes que sofrem de abortos de repetição, que têm história de mortes fetais inexplicadas, que tiveram graves complicações em gestações anteriores e que ouvem, como resposta, que não há nada o que fazer, agora já sabem que existem as trombofilias e, que elas podem ser investigadas e tratadas.”

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